Preparar para o Inesperado

Se preparar para o inesperado foi o tema central do Webinar da International Diabetes Federation em janeiro. A Federação já aborda o assunto há muitos anos em função da necessidade de ações imediatas e planejadas, quando um desastre natural acontece.

Terremotos, tsunamis, grandes enchentes e outros fenômenos da natureza causam enormes problemas e precisam de ações imediatas. Definir sobre o que fazer nestes momentos para ajudar as pessoas com diabetes pode significar salvar muitas vidas, que tinham sobrevivido, mas que podem não resistir se não forem atendidas há tempo. O presidente da IDF, Dr. Andrew Boulton, abriu o webinar reforçando a importância de colocar em prática e divulgar um Plano de Ação.

O que fazer

‘Desastres naturais e diabetes’ já tinha sido incluído na programação do último Congresso da IDF e agora o assunto foi retomado. Participaram representantes de centenas de países preocupados em saber que decisões precisam ser feitas para a criação de um plano de ação rápido a ser executado.

O Dr. Levimar Araújo, presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes, explica que o Brasil tem sorte de não ter grandes catástrofes naturais, mas que a melhor orientação para prevenção é ter sempre um estoque de seus medicamentos disponível para quaisquer emergências.

Se preparar para o inesperado

O webinar aconteceu no dia 17 de janeiro, às 8h (horário de Brasília) e foi muito importante ver pessoas de dezenas de países acompanhando. África do Sul, UK, Sri Lanka, Macedônia, Malásia, Nigéria, Arábia Saudita, México, Holanda, Paquistão, Madagascar foram alguns dos países com representantes.

Um dos pontos centrais foi o acesso à insulina no caso de desastres naturais, mas durante o debate foi mencionada a necessidade, também, dos medicamentos orais para o diabetes tipo 2.

Há muito tempo acompanhamos essas ações da IDF, que tem o apoio da WHO. A abertura do debate online, mediado pela Dra. Helen Bygrave, foi feita pelo Dr. Andrew Boulton, presidente da IDF. Ele reforçou que é preciso pensar na distribuição e no acesso à insulina nestes momentos. O presidente lembrou que em fevereiro de 2022 será comemorada mais uma data importante: 100 anos da primeira aplicação da insulina. Para o especialista é surpreendente que depois de 100 anos  e ainda se discute o acesso a insulina para salvar vidas.

Pontos importantes

Os medicamentos essenciais para diabetes precisam estar nas listas de emergência para a redução do impacto durante e após um desastre. De acordo com os dados da IDF, existem diferentes listas de medicamentos para desastres e outras emergências. Eles incluem insulina?

O professor Oliver Schnell, do Helmhltz Center, Munique, explicou que o primeiro passo é a definição de situação de desastre, porque irá ser responsável pelos planos de assistência internacional e mobilização nacional. O Center for Research on the Epidemiology of Disasters (CRED) listou o que define um evento como desastre.

  • 10 ou mais mortes
  • Relatório com indicação que 100 ou mais pessoas afetadas
  • Declaração de Estado de Emergência
  • Pedido de assistência internacional.

 

Exemplos do que é considerado um desastre natural:

  • Furacão
  • Tornados
  • Enchentes
  • Deslizamentos de terra
  • Terremoto
  • Erupção vulcânica
  • Quedas de energia
  • Ataque terrorista
  • Guerra

Diversos fatores contribuem para a piora da situação após um desastre natural e um deles é a falta de informação das equipes, que fazem os primeiros atendimentos, sobre o atendimento a quem tem diabetes.

Em janeiro de 2011, há 11 anos, a Região Serrana do Rio de Janeiro sofreu com um dos maiores temporais da sua história. Relatos sobre armazenamento inadequado de insumos para o tratamento do diabetes foram feitos e os endocrinologistas cariocas tentaram orientar sobre ações a serem realizadas. (foto Celso Pupo)

Nova Friburgo, Brazil – january 15, 2011: natural disaster due to excessive rain in the mountainous region of the state of Rio de Janeiro in 2011, devastated the city

Ter uma lista de medicamentos disponível, e com orientações de uso, é um dos itens necessários para redução do impacto.

Listas padronizadas de medicamentos em emergências permitem uma resposta eficaz, médicos usando kits padrão pré-embalados que podem ser mantidos prontos para atender às necessidades prioritárias de saúde, durante uma emergência devem ser incluídos no plano de ação. Isso ajudará a reduzir as taxas crescentes de morbidade e mortalidade por doenças transmissíveis e não transmissíveis em populações afetadas por desastres e emergências.

O Dr. Oliver lembrou que após situações de catástrofes o controle de glicemia se perde. Os mais vulneráveis são as pessoas com mais idade e em pior situação econômica.

A Associação Europeia de Farmacêuticos Hospitalares (EAHP) recomenda a elaboração de listas de medicamentos: A lista de avaliação de medicamentos para desastres, que se baseia na lista de emergências da OMS, inclui também uma planilha para cálculos de medicamentos necessários para cada região e situação. Estes estoques precisam ser atualizados automaticamente para observar qualquer desabastecimento.

Atualmente, as insulinas estão listadas como medicamentos para desastres e emergências nos seguintes países: maior parte da Europa, Caribe, Omã e Estados Unidos.

Além disso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) incluiu insulinas e inibidores de SGLT2 – medicamentos orais para diabetes tipo 2 – em sua Lista de Medicamentos Essenciais (EML).

O que é preciso fazer para a mudança?

Os profissionais de saúde, que trabalham em hospitais e clínicas, podem participar e contribuir para os principais aspectos da preparação para desastres, como:

  • Desenvolvimento de protocolos operacionais
  • Treinamento de equipe
  • Atualizações contínuas de guias de desastres terapêuticos
  • Localização de medicamentos críticos
  • Organização de estoque

Estes profissionais desempenham um papel importante para a garantia dos medicamentos e suprimentos essenciais para o atendimento de quem tem diabetes.

Para a IDF, o cuidado com o diabetes deve ser um componente-chave da resposta a qualquer emergência humanitária. Se for negligenciado, continuará afetando fortemente as populações que sofreram com o desastre natural.