Estigma e Diabetes: As Palavras Importam

Esse ano, no 82⁰ Congresso da Associação Americana de Diabetes (ADA), uma das palestras que chamou a atenção foi a do Dr. Delamater. Ele  contou sua jornada de descoberta ao longo de 40 anos de pesquisa comportamental quando recebia o prêmio anual “ Richard R. Rubin” sobre psicologia e diabetes.

As palavras fazem a diferença no tratamento do diabetes, especialmente quando as pessoas com diabetes começam a acreditar nas palavras negativas que ouvem sobre si mesmas e sua doença. O Dr. Alan Delamater  reconheceu a conexão sobre a demanda social, vivenciada por adolescentes com diabetes tipo 1, ao escrever sobre os  relatórios de automonitorização das glicemias.

Duas décadas de pesquisa aguçaram o foco de amplas intervenções psicossociais para o impacto muito específico do estigma nos resultados do diabetes.

Segundo a  psicóloga Jane Speigth, professora e presidente da Pesquisa Comportamental e Social em Diabetes da Universidade de Deakin na Austrália, o diabetes como condição, tem um problema de imagem generalizado.

Muitas palavras que são usadas todos os dias em diabetes como: – “falha, normal, não-conformidade, adesão, diabético, controle, responsabilidade, inaceitável” – são negativas, críticas, irreais e prejudiciais. 

Raramente Diabetes

Até recentemente, o estigma tem sido muito estudado em obesidade, saúde mental, epilepsia, portadores de HIV e em outras condições, mas raramente em diabetes. 

A pesquisa qualitativa descobriu que 93% das pessoas com diabetes tipo 1 e 84% das pessoas com diabetes tipo 2 relataram estigmatização espontaneamente em vários países.

As pessoas que sentem o estigma “na pele” mostram um comportamento de manejo do diabetes  mais difícil, tendem a ter níveis elevados de A1C, maior angústia do diabetes e sintomas depressivos e mais sentimentos de isolamento social.  A linguagem foi apontada como a principal culpada.

Segundo a Dra. Speigth, os sentimentos de vergonha que vêm com a linguagem cotidiana em torno do diabetes podem causar grandes danos.  Não seria possível desestigmatizar o diabetes sem abordar palavras problemáticas como “controle”, por exemplo.  Você não pode controlar o diabetes. Você gerencia, você influencia.

O estigma sobre o peso também pode afetar pessoas com diabetes.  Como o estigma do diabetes, o estigma do peso é baseado em grande parte em suposições equivocadas de responsabilidade pessoal, julgamento moral e culpa.

Organizações de diabetes em todo o mundo vem solicitando ações para combater o estigma do diabetes, mas seriam necessárias mais pesquisas para entender melhor os mecanismos e o impacto da linguagem estigmatizante. 

 “As palavras não apenas refletem a realidade, elas criam a realidade”. (Dra. Speight)