Minha História com o Diabetes: Taylane Silva

Nem sempre temos boas histórias para contar. Entretanto, é preciso abrir espaço para que relatos como o da jovem Taylane que mora em Vassouras, cidade do Centro Sul Fluminense, com população de 35 mil habitantes e que está há apenas 116 Km da capital do Estado, possam se tornar visíveis. Que sua história possa despertar a atenção dos governantes sobre a necessidade urgente de se fazer mais pelo cuidado do Diabetes em todos os cantos do País. É preciso tratar adequadamente a mãe com diabetes durante a gestação, para que novos brasileiros possam nascer. Felizmente Taylane Silva teve a oportunidade de participar da Colônia Azul Diabetes Rio deste ano e já começou a escrever um novo capítulo sobre sua vida com o diabetes. Esta nova história começa com a aceitação, entendimento sobre a importância do autocuidado e, também, com a assistência médica devidamente capacitada para possibilitar uma vida plena de realizações. Obrigado por compartilhar sua história com a Revista EmDiabetes.

“Meu nome é Taylane Silva, sou de Vassouras (RJ) e tenho 19 anos. Em meados de 2017 eu tive uma convulsão na escola devido a um problema cardíaco (Wolff Parkinson White*) que eu já tinha. Fui levada ao hospital e a minha glicose estava muito alta: 200. A partir daí, o médico pediu para minha mãe me levar ao posto de saúde fazer exames para saber o que era, caso fosse diabetes para tratar, porque estava muito alta. A partir desse dia eu comecei a procurar sozinha no YouTube, marquei vários médicos e fiz vários exames, mas nunca me diagnosticaram com diabetes. Eu ficava o tempo todo fazendo exames no posto de saúde e nunca me deram nenhum remédio para tomar, nenhuma insulina.

Em dezembro de 2017, eu engravidei e logo a partir do primeiro mês eu comecei a ir ao médico com mais frequência e a fazer mais exames. Os resultados das glicemias continuavam altos e então pediram para investigar. Como eu já estava pesquisando na internet, eu expliquei que poderia ser diabetes, mas não adiantou nada. Eu continuei indo ao médico, pois minha gravidez já era de risco por causa do problema cardíaco. Numa das vezes, eu fui fazer o exame em que eu precisei tomar um suco muito doce para poder medir a glicose antes e depois de duas horas. Eu não consegui fazer esse exame. A esta altura, eu já estava grávida, e a glicemia na ponta do dedo deu 175 mg/dL.  Então a médica do hospital pediu para eu para voltar para casa e como eu não conhecia nada da doença, não sabia de nada, eu voltei para casa e continuei com a vida normal.

Comecei a ir no posto de saúde fazer o pré-natal. Só que quando eles mediam a glicose no dedo, estava sempre ruim. A enfermeira pediu então para eu ir, grávida, todos os dias de manhã em jejum até o Posto de Saúde. Eu levava mais ou menos meia-hora para ir e meia hora para voltar para a casa. Eu levantava às 6 da manhã, saia de casa às 7:30 , chegava às 8 horas no posto, fazia a glicemia do dedo mesmo e voltava para casa. Todos os dias, de segunda a sexta-feira, eu ia no posto de saúde e sempre estava 180 mg/dL a 200 mg/dL, bem altas e nunca me passaram nada para tomar. Mas finalmente me encaminharam para uma endócrino e para a nutricionista. Ela me passou um papel e disse o que eu podia e o que eu não podia comer, só isso. Ela também media a glicemia na ponta do dedo todas as vezes que eu ia lá para ver como estava a glicemia. E estava sempre bem alta, mas a endócrino também não fez nada. Ela não pediu para eu tomar insulina, não passou remédio. Mesmo a glicemia estando alta para uma gestante, ela também não me mandou para o hospital para poder tomar alguma coisa para baixar. Ela não fez nada.

Num outro episódio, eu fui ao hospital tentar fazer novamente o exame que eu tinha que tomar o suco doce e medir duas horas depois e estava alta de novo. Novamente eu não consegui fazer o exame de novo e me mandaram para casa.  Uma semana depois eu comecei a vomitar muito, levantava umas 10 vezes à noite para fazer xixi, bebia muita água, muita água e não conseguia comer porque eu vomitava tudo o que eu comia. Eu só bebia água e fazia xixi. Era tudo o que eu fazia.

Tatuagem feita por Douglas Paiva para que Taylane Silva pudesse enfrentar o sofrimento homenageando seu filho.

Até que numa quarta-feira, no dia 16 de maio de 2018, eu já estava pálida e o meu rosto já estava marcando os ossos porque eu não conseguia comer nada. Então meu irmão olhou para mim e ficou desesperado. Ele me levou ao hospital e quando eu cheguei lá eu não conseguia enxergar mais nada, estava tudo azul. Eu estava desnorteada e não tinha noção do que estava acontecendo. Quando cheguei ao hospital a minha glicemia estava em 500 mg/dL e me levaram direto para a UTI. No dia seguinte à tarde, fizeram uma ultrassonografia e meu bebê estava morto.  O meu sangue ficou ácido e o bebê não aguentou. Eu com sete meses de gestação, perdi o meu bebê porque os médicos não conseguiram dar e tratar o diagnóstico de diabetes.”

*Wolff Parkinson White –Wolff Parkinson White (WPW) é uma síndrome de pré-excitação cardíaca causado por uma alteração do sistema de condução caracterizado por vias de condução acessórias entre os átrios e os ventrículos. São assintomáticos em geral, e alguns podem manifestar palpitações, pré-síncope ou síncope. Apesar de rara, a morte súbita cardíaca (MSC) pode ser a primeira manifestação clínica e ocorre com maior frequência durante o exercício. Fonte: http://www.socesp2015.com.br/trabalho/resumo/700

Por Sheila Vasconcellos