Neste ano de comemoração dos 100 anos da descoberta da Insulina vou relembrar um artigo que escrevi há algum tempo…
Compartilho e relembro com vocês o texto abaixo:
A descoberta da insulina foi um marco que revolucionou verdadeiramente o tratamento e o prognóstico do diabetes, uma das doenças mais estudadas na história da medicina: o diabetes mellitus. As primeiras menções remontam a uma coleção de textos médicos egípcios escritos por volta de 1552 antes de Cristo (aC), o chamado Papiro de Ebers e até os antigos livros didáticos indianos e chineses.
No papiro, o tratamento seria feito durante quatro dias com a decocção de ossos, trigo, grãos, areia, chumbo verde e terra. O médico indiano Sushruta e o cirurgião Charaka (400–500 dC) conseguiram distinguir entre um diabetes tipo 1 e um diabetes tipo 2, denominando a doença como “madhumeha” que significa literalmente, “urina de mel).
Por muitos anos, os cientistas acreditaram que algum tipo de secreção interna do pâncreas era a chave para prevenir o diabetes e controlar o metabolismo normal. Mas, ninguém havia conseguido encontrar esta resposta até 1921.
Neste ano, uma equipe da Universidade de Toronto (Canadá) começou a tentar uma nova abordagem experimental sugerida pelo Dr. Frederick Banting com a ajuda de seu assistente Charles Best. Eles aplicaram extrato do pâncreas pancreático em cães tornados diabéticos e viram uma redução na glicemia. Marjorie, foi a cadela que conseguiu sobreviver por 70 dias com a aplicação destes extratos da “Isletina” e que ficou famosa na foto junto aos pesquisadores.
E em 1923, Banting e Best receberam o Prêmio Nobel por esta importante descoberta da história da medicina moderna, aumentando de forma segura, a expectativa de vida das pessoas com diabetes. Cientistas e historiadores estão mais inclinados ao fato de que a descoberta da insulina envolveu um esforço colaborativo de uma equipe de cientistas: Banting, Best, Collip, Macleod e outros. Esta é uma das visões mais aceitas na Universidade de Toronto.
Primeiras Insulinas
A primeira insulina foi fabricada inicialmente pelo laboratório Ely Lilly, sendo que existia somente a de ação rápida, chamada de ”regular” (início de ação em cerca de 30 a 45 min. e com término de 5 a 8hs). Somente mais tarde, em 1946, foi desenvolvida pelo laboratório Novo Nordisk a chamada insulina NPH (neutral protamine Hagedorn – nome de seu descobridor), de ação intermediária (início de ação de 2 a 4hs. e com duração efetiva de 12 a 20hs).
Para serem fabricadas, utilizavam extratos de pâncreas de boi que eram purificados para poderem ser administrados por via subcutânea. Mas mesmo assim podiam causar chamadas lipodistrofias (aqueles “morrinhos” e endurecimentos nos locais de aplicação). Somente muitos anos depois passaram a utilizar pâncreas de porcos por terem uma maior semelhança com os dos humanos e conseguirem obter uma insulina mais purificada.
Insulinas Recombinantes
Na década de 80 a empresa de biotecnologia Genentech anunciou que havia conseguido produzir insulina ao introduzir o gene humano do hormônio em uma cepa de bactéria Escherichia coli. A Genentech formou parceria com a Eli Lilly, o que trouxe a insulina humana por engenharia genética ao mercado em 1982, com o nome comercial Humulin, a primeira droga recombinante no mundo.
A biotecnologia permitiu que pacientes com diabetes pudessem tomar uma insulina idêntica à insulina produzida pelo ser humano. Atualmente, esse procedimento também é feito utilizando de levaduras, como a Saccharomyces cerevisiae, diminuindo a necessidade de procedimentos de purificação caros e complexos.
Análogos de Insulina
Um análogo de insulina é uma forma alterada da Insulina, diferente de qualquer outra que exista na natureza. Através da engenharia genética a sequência de aminoácidos da insulina foi modificada para alterar suas características, como de tempo de ação e absorção. Em 1996 foi lançada a primeira insulina de ação ultrarrápida, a Lispro – Humalog ® (início de ação entre 5 a 15 min. com duração de 4 a 5hs), seguidas da Aspart (Novorapid ®) e Glulisina – Apidra®.
No ano 2000, foi lançada no mercado o primeiro análogo de insulina de ação lenta, a Glargina (Lantus®), sem pico de início de ação e com duração variável de 24 a 36h, seguida da Detemir (Levemir®), Degludeca (Tresiba®), Glargina 300 (Toujeo®) e Glargina (Basaglar®).
Com o lançamento dos análogos da insulina, passou a existir o esquema de tratamento Basal-bolus, o que permitiu um melhor controle da glicemia dos pacientes com diabetes tipo 1 e com tipo 2 que necessitam do seu uso.
Como o tempo não para, novas descobertas estão também sendo feitas e surgiu a Afrezza,®Insulina inalável de ação rápida.
Na edição de número 50, falamos sobre a Insulina Oral Capsulin®, que ainda está na fase II de pesquisa mas que será certamente mais uma descoberta que poderá ajudar a muitos pacientes com diabetes a ter menos necessidade do uso de agulhas para a aplicação das doses de insulina.
*Foto – campanha Insulina 100 – IDF